Acontece
Sobre o carnaval de Brasília
Preciso confessar que a minha opinião sobre o carnaval de Brasília mudou muito nos últimos anos. Aliás, nesse últimos anos não foi só a minha opinião que mudou, mas o próprio carnaval de Brasília está diferente, e é sobre isso que eu vou falar.
Por ser filha de baiano e ter uma Avó que morava no interior da Bahia, passar o carnaval lá sempre foi parte da minha vida. Desde criança até o fim da minha adolescência eu sempre estive no carnaval da Bahia, nas festas que aconteciam na cidade e principalmente nos blocos. Com 19 anos fui passar o carnaval em Salvador, e sabe como é, a primeira vez a gente não esquece. Vou me lembrar para sempre de quando eu vi, na quinta-feira, a Ivete Sangalo passando na minha frente em cima do trio elétrico com aquela roupa toda produzida. Foi muito emocionante, aquilo que só acontecia na televisão estava ali na minha frente. E por conta de todos esses anos, eu passei a ter a certeza de que só um carnaval prestava: o da Bahia. Na minha cabeça era inadmissível que alguém conseguisse se divertir em qualquer outro lugar do país. 19 anos né?
No ano seguinte não consegui viajar e fiquei totalmente frustrada porque estaria em Brasília no carnaval, afinal, era a primeira vez em 20 anos. Eu fiquei tão triste que me recusei a fazer qualquer coisa aqui, até ir para um bar era inadmissível. Se eu não estava na Bahia, não ia ter diversão. Pode parecer bem tosco, mas eu lembro muito bem como a minha cabeça de 20 anos funcionava e aquilo parecia fazer sentido pra mim. Só que o carnaval daqui de 10 anos atrás não era o mesmo que é hoje. Quase ninguém ficava na cidade, e basicamente não tinha nada para fazer.
Resumindo a história, voltei para Salvador mais alguns anos e em outros fiquei por aqui. Em um desses carnavais que eu não viajei (2013), um dia, do nada, decidimos que poderia ser legal ir curtir um bloco no eixão. Comprei uma fantasia (coisa que eu achava que nunca ia fazer, afinal, carnaval só de abadá), enchemos o isopor de cerveja e fomos para o eixão. Eu fiquei chocada com o tanto que eu me diverti naquele dia, foi muito bom, muito divertido e tudo na paz. Não vou comparar com estar em Salvador, mas foi ali que eu abri uma porta que eu não quero mais fechar: a do carnaval em Brasília. Por ficar sempre em casa, eu não sabia da quantidade de gente que estava por aqui e que estava super disposta a curtir todos os dias. No ano seguinte tentamos repetir a dose do eixão, mas nos atrapalhamos com o horário e quando chegamos a galera já tinha bebido demais e estava muito tumultuado.
A minha “conversão” aconteceu realmente em 2015, quando eu curti de sábado até segunda nas ruas de Brasília. Grande parte da minha família estava em Salvador e só sobraram algumas mulheres por aqui, no reunimos e decidimos que íamos nos divertir sim. No primeiro dia pegamos um isopor e encaramos uma multidão na Praça do Cruzeiro, era o Babydoll de nylon, o melhor dia de todos. Tudo na paz, a galera fantasiada, se divertindo numa boa. Banheiros sem tumulto, não teve nenhuma briga. Naquele sábado o bloco ganhou mais algumas fãs.
No domingo nos aventuramos de novo no eixão e eu decidi que foi a última vez. Aquele dia não lembrou nem de perto o primeiro ano que eu tinha ido. Muita briga, era o tempo todo fugindo de confusão. Não sei se é coisa que acontece quando a gente tá mais velho, mas eu não tenho condições de ficar em um lugar que eu não me sinta segura. Não volto mais.
Só que a minha surpresa foi quando na segunda feira fomos parar no Galinho de Brasília. Eu. No carnaval. Ouvindo frevo. A Leilanne de 20 anos nunca ia aceitar isso, e ela nunca ia acreditar que eu me diverti muito no som do frevo. Depois desse ano eu virei uma grande defensora dos blocos de rua. Não sei se é o que os outros pensam, mas eu acho sensacional beber e caminhar por lugares que eu só passo de carro. Lembro bem de quando o bloco passava por uma tesourinha e eu percebi que nunca tinha andado a pé por ali.
O que eu quero dizer com isso tudo é que em 2015 eu me diverti muito mais do que eu imaginei, gastei pouquíssimo e fiquei com muitas histórias para contar. Não estou comparando carnavais e nem cidades, não sou maluca de fazer isso. Eu acho que a gente não precisa de uma escala de comparação de festas para poder se divertir não é? E foi justamente quando eu parei de comparar as situações, que eu comecei a me divertir.
Quando eu era mais nova, na minha cabeça parece que existia uma “fórmula da diversão” que as coisas só iriam funcionar se fosse daquele jeito. Hoje eu considero a minha flexibilidade umas das melhores mudanças que aconteceram na vida adulta. Eu não acho mais que existe um único jeito certo de fazer as coisas, e com relação ao carnaval, eu não sinto mais que eu só posso ser feliz se eu estiver em Salvador.
Hoje eu vejo quanto tempo que eu perdi com ideias fixas e “preconceitos” bobos. Eu já falava mal sem nem ter conhecido, não dava nem uma chance. Só me dou um desconto porque eu era bem nova e aquele era o único estilo de vida que eu conhecia.
Ano passado (2016) eu não estava em Brasília no carnaval, depois de muitos anos eu voltei para Salvador e vi que as coisas por lá continuam maravilhosas. Em 2017 não vou viajar e hora nenhuma aquele pensamento que eu tive com 20 anos voltou para a minha cabeça. Pelo contrário, já fiz a minha programação e ela começa na sexta-feira.
Queria estar em Salvador? Claro. Posso ir? Não. Então pronto, vamos ficar por aqui e abraçar os bloquinhos de rua e as festas que vão rolar na cidade. Descobri que sou apaixonada por essa festa que a gente faz no país inteiro, não importa a cidade e nem a música que vai tocar, o que vale é a nossa diversão. E bloco de rua é uma das melhores coisas que inventaram.
Vai por mim, escolhe um lugar legal e chama uma galera boa (não esquece o isopor) que vai ser diversão garantida!
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