Nosso Canto
Saudades, Vó Dina
Dona de uma personalidade única. Para quem via de fora, parecia fria e durona. Mas bastava um carro de Brasília encostar na porta de uma de suas casas, para os olhos brilharem e revelar uma senhora amável e cheia de saudade. Uma mulher que abriu mão da presença física das pessoas que ela mais amou no mundo, para vê-las felizes e realizadas. Uma mulher de fibra, de força, de coragem e de amor. Se um dia me perguntassem do que dona Dina era feita, eu poderia citar milhares de ingredientes, mas com certeza, a “cereja do bolo” seria a coragem.
Foram sete filhos colocados no mundo. Todos criados com o mesmo amor, a mesma proteção e o mesmo sentimento de “voa, alcance grandes voos, mas volte para me ver”. E assim foi. Durante todos os anos, a família cresceu. Noras, genros, netos e até bisnetos, todos sempre voltaram. Todos sempre precisaram do abraço, do carinho, da preocupação e do pão quentinho de toda manhã de carnaval, de semana santa, de festa de agosto..
Quanto aos netos? Todos sempre tiveram o mesmo olhar protetor, o mesmo amor maternal e o mesmo dengo do “leite ninho com açúcar” e “um real para o geladinho”. Desde o mais velho ao mais novo, não houve quem não ouviu pelo menos uma vez na vida a seguinte frase “O meu filho, não fique chateado com seu pai, ele não quer que você saia, porque ele se preocupa com você”. Difícil levar isso ao pé da letra quando se é jovem, mas não tinha como não obedecer àquele conselho tão carinhoso.
Foram quase 25 anos ouvindo pelo telefone durante todos os natais e anos novos da minha vida a frase. “O minha filha, aqui é só saudade. Mas o carnaval está chegando e a gente vai se ver. Fica com Deus. Dê um beijo em seu pai, sua mãe e em Lane.” Era de apertar o coração, mas a certeza do encontro acalentava a dor.
Ano passado, seis dias após completar 82 anos, dona Dina resolveu que era a hora de partir. Seu rebanho estava pronto, seus sonhos realizados, seus netos crescidos e seus filhos com saúde. O que mais fazer por aqui, não é mesmo? Dona Dina foi uma mulher guerreira, forte e intensa. Tudo isso se traduzia assim que você olhava para o rosto dela. Uma pessoa que nunca teve a vida ganha nas mãos, mas que nunca deixou de batalhar para que os filhos tivessem a vida que têm hoje.
Uma mulher tímida, com dificuldades de dar abraços longos, mas que tinha nos olhos tudo o que bastava para acalmar qualquer pessoa: amor. Hoje, tenho 25 anos, tenho uma vida maravilhosa desde o dia em que nasci. Aprendi a compartilhar, a ganhar, a perder e principalmente, a deixar ir. Aprendi com ela uma das lições mais importantes da vida, abrir mão da companhia de quem se ama, para ver feliz. Acreditar nas pessoas, ter fé e principalmente esperança.
Hoje faz um ano que a vida não brilha na mesma intensidade. Que o coração não está completo, que tudo mudou. Não ligar no dia 16 de outubro para dar os parabéns e desejar mais muitos e muitos anos de vida, foi dolorido, foi atormentador. Mas saber que ela se foi quando tudo estava realizado, é confortante.
Tenho tristeza por saber que meus filhos não poderão conhecer pessoalmente a mulher guerreira que transformou a nossa família no exemplo de união e fraternidade que é. Mas tenho muito orgulho de poder ter o prazer de um dia abrir a minha boca para contar a todos sua história, a nossa história.
Obrigada vó, pela dedicação durante todos esses anos. Obrigada por ter criado pessoas tão sensacionais. Obrigada pelo meu pai, pelos meus tios e tias. Obrigada pelo meu Quirino, aquele sobrenome que todos carregamos com o maior orgulho do mundo.
Que saudade da senhora, que dor o dia de hoje nos traz.
Mas obrigada, acima de tudo pela benção de ser sua neta.
Eu te amo,
Para sempre,
sua Su.
Teu rebanho está pronto”
3 Comments